Rubem Alves considera a Escola como um espaço de
sofrimento. Isso fica bastante evidente ao contemplarmos os olhos amedrontados
das crianças e os seus rostos ansiosos na escola. Ao perguntarmos a uma criança
sobre os momentos mais alegres da escola, uma boa parte das vezes obteremos
respostas do tipo: o recreio, a hora da saída, o encontro com os colegas, o
companheirismo; mas, talvez, pouquíssimas vezes farão referências à alegria de
estudar.
Os professores argumentam que o testemunho dos
alunos não deve ser levado em conta, pois os mesmos ainda não têm condições de
saber o que é importante para eles. Quem sabe isso são os especialistas.
Adianta-se pois em socorro das crianças e dá seu próprio depoimento.
As crianças não estão sozinhas nesse julgamento. Eu mesmo só me lembro
com alegria de dois professores dos meus tempos de grupo, ginásio e científico.
A primeira, uma gorda e materna senhora, professora do curso de
admissão, tratava-nos a todos como filhos. Com ela era como se fôssemos uma
grande família. O outro, professor de literatura, foi a primeira pessoa a me
introduzir nas delícias da leitura. Ele falava sobre os grandes clássicos com
tal amor que deles nunca pude me esquecer. Quanto aos outros, a minha impressão
era de que nos consideravam como inimigos a serem confundidos e torturados por
um saber cuja finalidade e cuja utilidade nunca se deram ao trabalho de
explicar.
Compreende-se, portanto, que entre as nossas maiores alegrias estava a
notícia de que o professor estava doente e não poderia dar aula. Até mesmo uma
dor de barriga ou resfriado era motivo de alegria, quando a doença nos dava uma
desculpa aceitável para não ir a escola. Não me espanto, portanto, que tenha
aprendido tão pouco na escola. O que aprendi foi fora dela e contra ela.
(ALVES, 2000, p.16)
Os métodos tradicionais de tortura escolar como a
palmatória e a vara foram substituídos, segundo o filósofo, pelo sofrimento do
aluno ao ser forçado a mover-se numa infinidade de informações que ele não
consegue entender e que nenhuma relação tem com seu mundo.
É compreensível que, com o passar do tempo, a
inteligência embote por medo e horror diante de um ensino tão desastroso. O
aluno acaba se julgando incapaz. Para Rubem Alves a verdade é outra: a
inteligência do aluno foi intimidada pelos professores e, por isso, ficou
paralisada.
Os técnicos em educação desenvolvem métodos de
avaliar a aprendizagem e, baseando-se em seus resultados, estabelecem uma
classificação dos alunos. Os educandos passam a ser etiquetados e colocados em
fileiras e salas segundo seu desempenho. Os melhores recebem premiação e os
piores ficam marginalizados. Este é um dos tantos absurdos de nossa educação.
Ninguém pensou ainda em avaliar a alegria dos estudantes, mesmo porque não há
métodos objetivos para tal. Isto porque a alegria é uma condição interior, uma
experiência de riqueza e liberdade de sentimentos e pensamentos.
A educação, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que
sua vocação é despertar o potencial único que jaz adormecido em cada estudante.
Daí o paradoxo com que sempre nos defrontamos: quanto maior o conhecimento,
menor a sabedoria. T. S. Eliot fazia esta pergunta, que deveria ser motivo de
meditação para todos os professores: Onde está a sabedoria que perdemos no
conhecimento? (ALVES, 2000, p.18)
A escola pode ser um espaço emburrecedor. E de
certa forma é isso que ela tem sido. Isso aparece nas crônicas “A casa e a
escola” e “Casas que emburrecem”,
presentes no livro Por uma educação
romântica (ALVES, 2002-A). Cada ambiente é algo que pode estimular nossa
inteligência ou embotá-la. Casas e escolas tanto podem emburrecer ou fazer a
inteligência florescer.
Não adianta ser planejada por arquiteto, rica, decorada por
profissionais, cheia de objetos de arte. Não sei se decoração se aprende em
escola. Se a decoração se aprende em escola, pergunto se existe no currículo
uma matéria com o título: 'Decoração de emburrecer – decoração para provocar a
inteligência'... Essa pergunta não é ociosa.
Casas que emburrecem tornam as pessoas chatas. Criam tédio. Imagino
que muitos conflitos conjugais e separações se devem ao fato de que a casa,
finamente decorada, emburrece os moradores. Lá todos os objetos não podem ser
tocados. Tudo tem de estar em ordem, um lugar para cada coisa, cada coisa em
seu lugar. Orgulho da dona de casa, casa em ordem perfeita. (ALVES, 2002-A,
p.90)
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