Acontece que a partir do estudo da caravela
outros estudos podem ser feitos nas mais variadas áreas do saber. Pode servir
para o estudo da Física, da História, da Matemática, do ensino de língua...
Enfim, para as mais diversas áreas e de forma concreta. Os alunos aprendem em
nossas escolas a resolver problemas no papel e não na vida. Esse é o destino de
toda ciência que não é aprendida a partir da experiência, o esquecimento. Já a
ciência que se aprende a partir da vida jamais é esquecida. Para a Escola da
Ponte, a vida é o único programa que merece ser seguido. Lá as coisas mais
importantes não são ensinadas por meio de aulas preparadas com o apoio de
programas. Elas são ensinadas inconscientemente através da criação de um espaço
lúdico em que se ensina sem que se fale sobre educação.
Nas escolas "linha de montagem", tudo é
separado: as salas, as séries, os
alunos, os conteúdos e as classes sociais. A vida é apresentada como cheia de
espaços estanques. As turmas sofrem uma classificação e hierarquização que tem
como consequência prática a competição. Os saberes são ministrados em tempos
definidos um após o outro: o que se ensina é que os saberes são compartimentos
estanques. A escola "linha de montagem", apoiada na ciência,
frequentemente produz conclusões equivocadas. Alves considera que Jean Piaget
contribuiu para esta prática.
Piaget, analisando o desenvolvimento do aparato cognitivo das
crianças, percebeu que ela passa por fases. Da mesma forma como uma planta
passa por fases. Não se pode esperar que uma planta dê frutos quando ela ainda
não está madura para isso. Essa constatação que é científica, produziu uma
conclusão pedagógica estranha: se as capacidades de aprender das crianças
passam por fases, então as crianças devem ser agrupadas segundo a fase em que
se encontram. Assim o ambiente de aprendizagem de uma criança de 5 anos deve
ser distinto e separado do ambiente de aprendizagem de uma criança de 9 anos.
As crianças aprendem separadas em pequenos currais... (Correio Popular, Set. 2002)
Em sua crítica a Piaget, considera que este, ao
pensar sobre a aprendizagem, levou muito a sério a organização do ambiente e
não é bem assim que acontece na vida. Plantas, nas mais diversas fases de
crescimento, convivem no mesmo espaço. Árvores imensas estão do lado de
sementes recém-brotadas, bem como arbustos florescem ao lado de plantas que já
perderam as folhas. E é exatamente nessa diversidade que se encontra a beleza
do jardim. Jardim não é canteiro de mudas.
A parte mais rica de experiência humana é a
convivência na diversidade: crianças nas mais diversas fases do desenvolvimento
cognitivo habitando um mesmo espaço, ajudando-se umas às outras.
Com a metáfora do jardim, o filósofo apresenta
posições diferentes de encarar a escola e a educação por ela oferecida.
Escola canteiro de mudas ou
Escola jardim. Jardim... inviável? É a falta de compreensão dessa dimensão humana
que cria os mecanismos de segregação: as escolas se transformam em canteiros de
mudas, todas iguais, separadas por fase de crescimento. E se no meio das mudas
iguais aparecer uma planta diferente, o jardineiro a arranca e joga no lixo...
Não seria bonito e verdadeiro se as escolas, ao invés de parecerem linhas de
montagem, se parecessem com jardins? (ALVES, Correio Popular, 25/09/2002)
A Escola da Ponte o encantou exatamente por ter
essa filosofia. Um único espaço, partilhado por todos sem a separação por
turmas, sem campainhas tocando para anunciar o fim de uma disciplina e o início
de outra. A lição que essa escola nos aponta é que todos partilhamos de um
mesmo mundo. Pequenos e grandes são todos companheiros de aventura. Não há
competição. Todos se ajudam. A cooperação é fundamental nesse espaço. Os
saberes são vinculados ao ritmo da vida e não ao de programas e currículos
fechados. Trata-se de uma escola que ouve as crianças de forma sincera,
absorvendo o que elas sentem e pensam. São as crianças que estabelecem as
regras de convivência. Determinações como a necessidade de silêncio, o trabalho
não perturbado e o ouvir música enquanto trabalham foram propostas das mesmas.
São elas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a
obedecer às regras. Isso faz com que o espaço da escola se pareça com o espaço
do jogo pois este, para ser divertido e fazer sentido, tem de ter regras. Nessa
escola as crianças aprendem que a vida social, na prática, depende de que cada
um abra mão de sua vontade própria quando esta entra em conflito com os limites
convencionas pela vontade do coletivo. Assim, as crianças na Escola da Ponte
aprendem a convivência democrática, sem que ela seja uma disciplina do
currículo.
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