A pressão começa com os pais que desde cedo
perguntam aos filhos o que eles querem ser quando crescerem. A criança ainda
está brincando mas os pais já perdem o sono pensando se o filho será capaz de
passar no vestibular e se eles terão condição de pagar um colégio bom ou um
cursinho. E é porque a angústia tomou conta de sua alma que se afligem quando percebem
que a escola não exige o suficiente, não desenvolve o espírito individualista e
competitivo e perde tempo com atividades que eles julgam supérfluas. Supérflua,
para esses pais, são todas as atividades que não podem ser acumuladas como
capital que poderá dar a seus filhos uma vantagem sobre os outros na hora da
competição.
Os pais, muitas vezes, são os piores inimigos da educação, a maioria
não está interessada no aprendizado dos filhos. Só querem que eles passem no
vestibular.
Eu até compreendo, porque eles são movidos pela ilusão de que entrando
na Universidade seus filhos terão um diploma e isso vai garantir uma
sobrevivência econômica digna – o que aliás, não é verdade. O Ministério da
Educação registra o aumento de matrículas nas universidades. Por que? Porque a
educação é um negócio muito bom. Todo mundo quer ter educação, ganhar dinheiro.
Só que não há emprego para todo esse pessoal que está formado. (ALVES, Revista Nova Escola, Maio de 2002, p.46)
Todos nós concordamos que é necessário que a escola
dê uma base aos alunos. O problema é que ninguém pensa em boa base vinculada ao
prazer, à alegria e ao espírito comunitário e solidário ou à sensibilidade
artística. Estas coisas podem ser muito boas para a vida, mas não é isto que as
pessoas têm em mente quando se referem à boa base.
Os professores que fazem e vendem livros didáticos, sabedores disto,
tratam de colocar entre os problemas a serem resolvidos alguns que incluam
informações do seguinte tipo: ITA, 1979; FUVEST, 1981. As escolas que os adotam
serão consideradas responsáveis (dão boa base para o vestibular, verdadeiros
pré-cursinhos...), os pais não chorarão o dinheiro e dormirão seguros de
estarem fazendo o melhor para os seus filhos, e os moços pensarão que estão
andando no bom caminho. (ALVES, 1986, p.76)
Os exames vestibulares não devem ser avaliados
como instrumentos adequados ou não para a entrada na Universidade, mas antes
disso, como instrumentos que determinam os rumos da educação com muito mais
força que toda nossa legislação educacional. Tudo fica tolhido. Qualquer ideia
nova ou tentativa de mudança esbarra no vestibular que o aluno terá que fazer
quando terminar o segundo grau. O vestibular há muito se tornou o principal
determinante dos nossos currículos e programas pedagógicos.
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