sexta-feira, 27 de junho de 2014

continuação Pensamento Pedagogico de Rubem Alves



A pressão começa com os pais que desde cedo perguntam aos filhos o que eles querem ser quando crescerem. A criança ainda está brincando mas os pais já perdem o sono pensando se o filho será capaz de passar no vestibular e se eles terão condição de pagar um colégio bom ou um cursinho. E é porque a angústia tomou conta de sua alma que se afligem quando percebem que a escola não exige o suficiente, não desenvolve o espírito individualista e competitivo e perde tempo com atividades que eles julgam supérfluas. Supérflua, para esses pais, são todas as atividades que não podem ser acumuladas como capital que poderá dar a seus filhos uma vantagem sobre os outros na hora da competição.

Os pais, muitas vezes, são os piores inimigos da educação, a maioria não está interessada no aprendizado dos filhos. Só querem que eles passem no vestibular.
Eu até compreendo, porque eles são movidos pela ilusão de que entrando na Universidade seus filhos terão um diploma e isso vai garantir uma sobrevivência econômica digna – o que aliás, não é verdade. O Ministério da Educação registra o aumento de matrículas nas universidades. Por que? Porque a educação é um negócio muito bom. Todo mundo quer ter educação, ganhar dinheiro. Só que não há emprego para todo esse pessoal que está formado. (ALVES, Revista Nova Escola, Maio de 2002, p.46)

Todos nós concordamos que é necessário que a escola dê uma base aos alunos. O problema é que ninguém pensa em boa base vinculada ao prazer, à alegria e ao espírito comunitário e solidário ou à sensibilidade artística. Estas coisas podem ser muito boas para a vida, mas não é isto que as pessoas têm em mente quando se referem à boa base.

Os professores que fazem e vendem livros didáticos, sabedores disto, tratam de colocar entre os problemas a serem resolvidos alguns que incluam informações do seguinte tipo: ITA, 1979; FUVEST, 1981. As escolas que os adotam serão consideradas responsáveis (dão boa base para o vestibular, verdadeiros pré-cursinhos...), os pais não chorarão o dinheiro e dormirão seguros de estarem fazendo o melhor para os seus filhos, e os moços pensarão que estão andando no bom caminho. (ALVES, 1986, p.76)

Os exames vestibulares não devem ser avaliados como instrumentos adequados ou não para a entrada na Universidade, mas antes disso, como instrumentos que determinam os rumos da educação com muito mais força que toda nossa legislação educacional. Tudo fica tolhido. Qualquer ideia nova ou tentativa de mudança esbarra no vestibular que o aluno terá que fazer quando terminar o segundo grau. O vestibular há muito se tornou o principal determinante dos nossos currículos e programas pedagógicos.

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